Confira abaixo a excelente matéria feita pelo Jornal Notícias do Dia relembrando um triste fato: a instalação da primeira Ghost Bike de Floripa, ocorrida há 10 anos (09/08/2008).
Opinião do ciclista Daniel de Araújo Costa:
"Andar de Bicicleta não é perigoso. Perigoso é como se permite dirigir na cidade.
Bêbados, falando ao celular, altas velocidades, imprudência e irresponsabilidade, aliados à impunidade, isso é perigoso!
Sobre o termo Sobrevivente: Infelizmente, nós ciclistas somos (sobreviventes). A irresponsabilidade, imprudência, aliadas à impunidade no trânsito brasileiro, assassinam mais de 50 mil pessoas ao ano, “mais mortes que guerras”?!?!? Alguns dizem que o trânsito é uma guerra, e cada dia uma nova batalha!?!?
#AcordaSociedade"
Fonte: Jornal Notícias do Dia por CRISTIANO RIGO DALCIN, FLORIANÓPOLIS
A quinta-feira, 9 de agosto de 2018, marca os dez anos da instalação da primeira ghost bike (imagem ao lado) para lembrar a morte de ciclistas no trânsito de Florianópolis.
De lá para cá, os ciclistas ganharam respeito dos motoristas e as ciclovias ganharam espaço na discussão da mobilidade na Ilha de Santa Catarina, mas as políticas públicas pouco avançaram quando o objetivo é garantir espaço para pedalar com segurança na malha viária da Capital.
Desde 2008, 14 ghost bikes foram instaladas por ativistas, sempre com objetivo de fazer homenagens póstumas aos ciclistas que perderam a vida na guerra diária do trânsito. Metade delas está na SC-401, a rodovia estadual mais movimentada do Estado que liga o Norte da Ilha ao Centro. As demais estão distribuídas em rodovias e avenidas do Sul e do Leste da Ilha.
Associado da Amobici (Associação de Mobilidade por Bicicleta e Modos Sustentáveis) e presente nas instalações de todas as ghost bikes, Fabiano Pacheco acredita que elas cumpriram seu papel, principalmente, de alertar motoristas quanto à presença de ciclistas na divisão do espaço urbano. “A educação do motorista avançou. Era muito pior. O assunto foi diversas vezes pautado ao longo do tempo e o pessoal ficou mais ciente dos direitos dos ciclistas”, afirma.
Para o ciclista Daniel de Araújo Costa, ex-presidente da Via Ciclo, os avanços existiram, mas foram pequenos, e contesta aqueles que dizem que é perigoso andar de bicicleta. “Perigoso é a forma como se permite dirigir carros na cidade, que não foi feita para o trânsito de velocidade”, justifica.
Para o analista de sistemas e ciclista Ary Boheme, 54 anos, apesar de significar más lembranças, as ghost bikes “mostram que é preciso se proteger, pensar nos caminhos e horários, porque a educação do motorista não é aquilo que se espera”. Pai do jornalista Roger Bitencourt, atropelado na SC-401 no dia 27 de dezembro de 2016, Paulo Bitencourt, 76, resume o significado da homenagem: “Serve de alerta. Se a pessoa tiver o mínimo de consciência não vai acontecer o que aconteceu. É melhor do que nada”.
Outros avanços foram obtidos graças ao endurecimento da Lei Seca nos últimos dois anos e a promoção de campanhas de conscientização junto a empresas de ônibus e de conhecimento do perfil da população de ciclistas, mas o “pedalar” é muito dependente de uma estrutura viária. Atualmente, de acordo com a Prefeitura de Florianópolis, são apenas 96,2 quilômetros de ciclovias e o planejamento é ampliar a rede cicloviária em 50% até o final de 2020, chegando a 144,3 quilômetros. “O aumento é tímido e a qualidade é ruim, principalmente nas rodovias. O que aumentou mesmo foram as ciclofaixas”, explica Fabiano Pacheco, da Amobici, em referência a pistas sinalizadas por tachões.
MÍDIA
Confira a manifestação que aconteceu nesta quinta-feira (09/08/2018)
. Manifestação 'Ghost Bike' homenageia ciclistas vítimas do trânsito em Florianópolis (Fonte: RIC Mais - SC)
Fundo pode garantir investimentos de R$ 5 milhões em 2019
A ausência de políticas públicas é a principal queixa de ativistas e amantes do ciclismo em Florianópolis. Mas no último dia 28 de julho, após aprovação do Legislativo, o prefeito Gean Loureiro (MDB) sancionou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) que prevê a destinação de 20% dos recursos do Fundo Municipal de Trânsito para investimentos no sistema cicloviário e deu novo alento à causa.
Os representantes das entidades estão engajados para que, a partir de 2019, com estes recursos, o município cumpra três ações básicas: a criação do Plano Cicloviário; a implantação do projeto + Pedal, através do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), e a conclusão de ciclovias não terminadas, principalmente, na avenida Ivo Silveira, um exemplo latente de como as ciclovias estão relegados a um segundo plano, as chamadas “obras complementares”, na divisão dos espaços públicos da cidade.
Com expectativa de arrecadar R$ 25 milhões em 2019, o Fundo Municipal de Trânsito destinaria R$ 5 milhões para aplicação no setor cicloviário. Os recursos são vistos como a tábua de salvação para melhoria da estrutura viária. “Se bem geridos, esses R$ 5 milhões podem revolucionar o modal na cidade e, em alguns bairros, podemos dobrar o número de pessoas com bicicletas”, ressalta Fabiano Pacheco.
Para Daniel Araújo Costa, não adianta ter só dinheiro, mas aplicar de maneira adequada. “A ciclovia da Ivo Silveira foi solenemente ignorada. O prefeito sabe o que é preciso fazer, mas não faz e isso assusta”, exemplifica, ao lembrar que o Ministério da Cidades disponibiliza aos municípios um manual de construção de ciclovias com todas as normas necessárias para garantir segurança de ciclistas.
Audálio é sobrevivente da SC-401
Nos últimos dez anos, Audálio Marcos Vieira Júnior, 45 anos, pedala quatro vezes de segunda a sexta-feira entre a residência, em Ingleses, até o trabalho, no Itacorubi. São quase 60 quilômetros, a maior parte pela SC-401, com olhos e ouvidos bem atentos para não se tornar mais uma vítima no trânsito.
O ciclista reconhece que é “muito difícil” encarar o trajeto sem sofrer algum susto, mas a necessidade de praticar uma atividade física e a praticidade do meio do transporte falaram mais alto na decisão de pedalar. “No início, ninguém me falou que era impossível, mas passou a ser algo natural. Mesmo assim, acho perigoso e pedalo sempre com muita atenção”, garante.
Opinião do ciclista Daniel de Araújo Costa:
"Andar de Bicicleta não é perigoso. Perigoso é como se permite dirigir na cidade.
Bêbados, falando ao celular, altas velocidades, imprudência e irresponsabilidade, aliados à impunidade, isso é perigoso!
Sobre o termo Sobrevivente: Infelizmente, nós ciclistas somos (sobreviventes). A irresponsabilidade, imprudência, aliadas à impunidade no trânsito brasileiro, assassinam mais de 50 mil pessoas ao ano, “mais mortes que guerras”?!?!? Alguns dizem que o trânsito é uma guerra, e cada dia uma nova batalha!?!?
#AcordaSociedade"
Fonte: Jornal Notícias do Dia por CRISTIANO RIGO DALCIN, FLORIANÓPOLIS
Ghost bikes fazem aniversário de 10 anos lembrando morte de ciclistas em Florianópolis
Homenagens póstumas começaram a ser instaladas em 2008 e servem de alerta para motoristas
Infelizmente a 1a Ghost Bike foi retirada. |
De lá para cá, os ciclistas ganharam respeito dos motoristas e as ciclovias ganharam espaço na discussão da mobilidade na Ilha de Santa Catarina, mas as políticas públicas pouco avançaram quando o objetivo é garantir espaço para pedalar com segurança na malha viária da Capital.
Desde 2008, 14 ghost bikes foram instaladas por ativistas, sempre com objetivo de fazer homenagens póstumas aos ciclistas que perderam a vida na guerra diária do trânsito. Metade delas está na SC-401, a rodovia estadual mais movimentada do Estado que liga o Norte da Ilha ao Centro. As demais estão distribuídas em rodovias e avenidas do Sul e do Leste da Ilha.
Associado da Amobici (Associação de Mobilidade por Bicicleta e Modos Sustentáveis) e presente nas instalações de todas as ghost bikes, Fabiano Pacheco acredita que elas cumpriram seu papel, principalmente, de alertar motoristas quanto à presença de ciclistas na divisão do espaço urbano. “A educação do motorista avançou. Era muito pior. O assunto foi diversas vezes pautado ao longo do tempo e o pessoal ficou mais ciente dos direitos dos ciclistas”, afirma.
Ciclista Daniel de Araújo Costa pedalando e rebocando a Ghost Bike em homenagem à Lylyan Karlinski |
Para o analista de sistemas e ciclista Ary Boheme, 54 anos, apesar de significar más lembranças, as ghost bikes “mostram que é preciso se proteger, pensar nos caminhos e horários, porque a educação do motorista não é aquilo que se espera”. Pai do jornalista Roger Bitencourt, atropelado na SC-401 no dia 27 de dezembro de 2016, Paulo Bitencourt, 76, resume o significado da homenagem: “Serve de alerta. Se a pessoa tiver o mínimo de consciência não vai acontecer o que aconteceu. É melhor do que nada”.
Outros avanços foram obtidos graças ao endurecimento da Lei Seca nos últimos dois anos e a promoção de campanhas de conscientização junto a empresas de ônibus e de conhecimento do perfil da população de ciclistas, mas o “pedalar” é muito dependente de uma estrutura viária. Atualmente, de acordo com a Prefeitura de Florianópolis, são apenas 96,2 quilômetros de ciclovias e o planejamento é ampliar a rede cicloviária em 50% até o final de 2020, chegando a 144,3 quilômetros. “O aumento é tímido e a qualidade é ruim, principalmente nas rodovias. O que aumentou mesmo foram as ciclofaixas”, explica Fabiano Pacheco, da Amobici, em referência a pistas sinalizadas por tachões.
MÍDIA
Confira a manifestação que aconteceu nesta quinta-feira (09/08/2018)
. Manifestação 'Ghost Bike' homenageia ciclistas vítimas do trânsito em Florianópolis (Fonte: RIC Mais - SC)
Fundo pode garantir investimentos de R$ 5 milhões em 2019
A ausência de políticas públicas é a principal queixa de ativistas e amantes do ciclismo em Florianópolis. Mas no último dia 28 de julho, após aprovação do Legislativo, o prefeito Gean Loureiro (MDB) sancionou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) que prevê a destinação de 20% dos recursos do Fundo Municipal de Trânsito para investimentos no sistema cicloviário e deu novo alento à causa.
Os representantes das entidades estão engajados para que, a partir de 2019, com estes recursos, o município cumpra três ações básicas: a criação do Plano Cicloviário; a implantação do projeto + Pedal, através do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), e a conclusão de ciclovias não terminadas, principalmente, na avenida Ivo Silveira, um exemplo latente de como as ciclovias estão relegados a um segundo plano, as chamadas “obras complementares”, na divisão dos espaços públicos da cidade.
Com expectativa de arrecadar R$ 25 milhões em 2019, o Fundo Municipal de Trânsito destinaria R$ 5 milhões para aplicação no setor cicloviário. Os recursos são vistos como a tábua de salvação para melhoria da estrutura viária. “Se bem geridos, esses R$ 5 milhões podem revolucionar o modal na cidade e, em alguns bairros, podemos dobrar o número de pessoas com bicicletas”, ressalta Fabiano Pacheco.
Para Daniel Araújo Costa, não adianta ter só dinheiro, mas aplicar de maneira adequada. “A ciclovia da Ivo Silveira foi solenemente ignorada. O prefeito sabe o que é preciso fazer, mas não faz e isso assusta”, exemplifica, ao lembrar que o Ministério da Cidades disponibiliza aos municípios um manual de construção de ciclovias com todas as normas necessárias para garantir segurança de ciclistas.
Audálio é sobrevivente da SC-401
Nos últimos dez anos, Audálio Marcos Vieira Júnior, 45 anos, pedala quatro vezes de segunda a sexta-feira entre a residência, em Ingleses, até o trabalho, no Itacorubi. São quase 60 quilômetros, a maior parte pela SC-401, com olhos e ouvidos bem atentos para não se tornar mais uma vítima no trânsito.
Audálio Jr pedala com atenção e cuidado nas ruas de Florianópolis. - Foto Marco Santiago/ND |
O ciclista reconhece que é “muito difícil” encarar o trajeto sem sofrer algum susto, mas a necessidade de praticar uma atividade física e a praticidade do meio do transporte falaram mais alto na decisão de pedalar. “No início, ninguém me falou que era impossível, mas passou a ser algo natural. Mesmo assim, acho perigoso e pedalo sempre com muita atenção”, garante.
Audálio também pratica a política da boa vizinhança e faz um sinal de agradecimento quando percebe que algum motorista reduziu a velocidade. “Mesmo se a preferência é minha, faço o sinal. Importante é ter o conhecimento de que sou a parte fraca”, relata.
Ele pedala sem fones de ouvido, pois considera a audição um aliado. “São muitas as situações e, às vezes, ouvir uma freada pode ajudar”, conta. Quase um sobrevivente na SC-401, Audálio encarou momentos distintos da rodovia, antes e pós duplicação. “Durante as obras foi bem difícil, pois vários trechos eram bloqueados. Perderam uma boa oportunidade de fazer a ciclovia”, avalia.
Ciclista Audálio Jr sobrevivendo à duplicação da SC-401, quando o acostamento foi liberado para tráfego dos automotores. Foto: Fernando Mendes |
Distribuição da malha cicloviária atual em Florianópolis
- Ciclovias: 40,6 km
- Ciclofaixas : 27,5 km.
- Ciclofaixa elevada: 21,9 km
- Calçada compartilhada: 6,2 km.
- Total: 96,2 km
Fonte: Prefeitura de Florianópolis
As 14 vítimas e as ghost bikes
- Rodrigo Lucianetti, 34 anos - morreu no dia 3 de agosto de 2008 em Jurerê, na SC-402. Era atleta amador de triatlo e treinava quando foi atingido por um carro.
- Rodrigo Wilmar da Costa, 24 anos - morreu no dia 13 de setembro de 2008 em Canasvieiras, na SC-401. Funcionário de um supermercado em Canasvieiras, foi atropelado próximo ao trevo do bairro, enquanto pedalava no acostamento.
- Hector Cesar Galeano, 54 anos - morreu no dia 3 de janeiro de 2012, em Canasvieiras, na SC-401. Nascido na Argentina, morava em Canasvieiras e trafegava pela ciclofaixa, próximo ao trevo de acesso ao bairro, quando foi atropelado por um carro.
- Emílio Delfino Carvalho de Souza, 21 anos - morreu no dia 5 de fevereiro de 2012, na SC-401. Cursava o 2º ano de medicina na UFSC e foi atropelado quando pedalava em direção a Ingleses.
- José Lentz Neto, 60 anos - morreu no dia 31 de agosto de 2012, na avenida Madre Benvenuta, na Trindade. Servidor da Udesc, foi atropelado ao voltar para casa de bicicleta.
- Mário Augusto Fernandes, 32 anos – morreu no dia 3 de dezembro de 2012, na SC-401, perto do trevo de Cacupé. Servente de obras, trabalhava em Jurerê e voltava para casa, no Monte Verde, quando foi atropelado por uma caminhonete.
- Lylyan Karlinski Gomes, 20 anos – morreu no dia 1º de julho de 2013, na rotatória da praça Santos Dumont, na UFSC. A estudante de oceanografia ia para o campus, às 8h20, quando foi atingida por um ônibus.
- Everton Luis Machado, 22 anos – morreu no dia 18 de agosto de 2013, na SC-401, perto do trevo de Ratones. Havia recém-saído de casa, ao lado do trevo de acesso a Ratones. Seguia em direção a casa de um primo quando foi atropelado no acostamento.
- João Victor de Abreu, 10 anos – morreu no dia 9 de março de 2014, no Rio Vermelho. O menino havia saído de casa por volta das 14h30 para visitar o pai, cerca de 300 metros da residência da mãe. Foi atingido por um carro e arremessado por dez metros. A PM realizou o teste do bafômetro no motorista e comprovou a embriaguez.
- Gabriel Serôa da Mota, 61 anos – morreu no dia 5 de outubro de 2015, na Via Expressa Sul. Professor de química no IFSC, foi atingido por uma moto quando pedalava em direção a casa, no Saco dos Limões, após um passeio no Campeche.
- Róger Bitencourt, 49 anos - morreu no dia 27 de dezembro de 2015, na SC-401, próximo ao trevo de Jurerê. Pedalava com mais quatro ciclistas na ciclofaixa da rodovia, em uma manhã de domingo, quando foi atropelado por um carro.
- Simoni Bridi, 28 anos - morreu no dia 24 de janeiro de 2016, na SC-401, próximo à entrada de Canasvieiras. Com uma bicicleta elétrica, ela voltava do trabalho e foi atropelada no acostamento da rodovia por volta da 1h. O motorista fugiu sem prestar socorro.
- Roseli Glória da Silva, 33 anos – morreu no dia 9 de março de 2016, por volta do meio-dia na rodovia Tertuliano Brito Xavier, entre Canasvieiras e Jurerê. Foi atropelada por um ônibus do Consórcio Fênix.
- Fábio Pereira, 44 anos – morreu atropelado no dia 25 de agosto de 2017. Foi atropelado na rodovia Baldicero Filomeno, no Ribeirão da Ilha, enquanto voltava para casa do mercado. Ele transitava na calçada e foi atingido por um carro conduzido por uma motorista que usava o celular enquanto dirigia, segundo relatos de testemunhas.
Nenhum comentário